Ser Mulher...
... é difícil de descrever o que é ser-se mulher.
Para começar é extremamente cansativo e aborrecido. Senão vejamos...
Começa-se logo desde que se nasce. Se é rapariga rosa, rapaz azul. E se os pais gostarem do laranja?
Começa-se a crescer e novamente somos catalogadas...
Quem se lembra dos livros diferenciados para meninas e meninos? Ah... o rapaz é mais ciências e matemáticas... as raparigas é mais as florezinhas e os animaizinhos... Seremos burrinhas? Quem disse que nós não podemos ser analíticas e criativas ao mesmo tempo? Que eu saiba... somos as que mais facilmente conseguem fazer várias.... e volto a sublinhar... várias tarefas ao mesmo tempo.
Meninas brincam com brinquedos de meninas e não de rapazes... As meninas também gostam de subir às árvores, de brincar à apanhada, aos índios e cowboys...
Entra-se na puberdade...
... e é a via sacra... numa versão muito feminina... Dolorosa... é o aparecimento da menstruação, das borbulhas que aparecem nas alturas menos convenientes. E se há dias em que uma pessoa acorda e sente-se que nem um autêntico calhau... que nem a melhor das make-ups consegue disfarçar. As ditas alturas do mês... TPM's... ou estás com o benfica?! No coments... nada de ferir susceptibilidades alheias... porque nem todas são do glorioso...
A primeira ida ao ginecologista. Passa à frente... O ter de se usar pela primeira vez um soutien... algo desconhecido e desconfortável, que até então só se via pendurado no estendal e não se ligava muito. Apesar da mãe, avó e tia terem já abordado o tema... mas sempre visto como uma coisa a longo prazo.
Do... se comes isto vais inchar que nem um porco... porca! Esta acompanha-nos a vida toda. Ou não vivêssemos numa sociedade voltada para o culto da beleza e da eterna juventude.
Os estudos...
Ainda que apresentemos as melhores notas finais nos respectivos cursos, na hora de se arranjar um emprego. E já nem me refiro ao emprego de sonho... somos preteridas por um rapaz. E isso vê-se em muitas folhas salariais.... todos os finais de mês.
E se é chegada a hora de cortar nas despesas... a probabilidade de se engrossar a lista do desemprego nacional... é grande, muito grande!
Depois vem os namoricos...
...e o mundo volta a ter cor, som, calor! Mas também é sol de pouca dura. Há que ser-se sensual, mas discreta... nada de poucas vergonhas ou é-se logo catalogada de pu****, de oferecida...
Se nos casamos...
... ganha-se um companheiro, mas também mais trabalho. Não basta o dia passado no emprego e todas as metas que todos os dias têm de ser ultrapassadas. Há que se mostrar mais eficiente e inteligente que o colega do lado. Para "agradar" o chefe. O agradar o chefe... cuidado que ele pode ler nas entrelinhas algo que não é aquilo que se quer passar...
Depois de um dia de estafa... chega-se a casa e se não se tem a sorte de ter-se alguém ao lado que não tenha medo de arregaçar as mangas e de pôr as mãos na massa... está tudo para fazer. Filhos incluídos. Abençoados pais que ensinam os seus filhos (rapazes) a não terem vergonha das lides domésticas e de saberem cozinhar, passar a ferro, e todas as restantes tarefas próprias de uma casa...
Se não nos casamos...
...ou não temos filhos. Ui... postas de lado?! Logo... Nem para tia servimos. É lésbica?! E se for? E se não for e decidiu não se casar? Ou por uma razão qualquer médica não poder ter filhos? É-se menos mulher? Parece que sim... muitas de nós pensam-no e pior... dizem-no. Até para iguais a nós, do mesmo género, somos más. Estou a lembrar-me no caso dos concursos. A maioria ganha sempre por homens... quando a maioria a votar são mulheres...
Depois vem a meia-idade...
... a terceira e a quarta idades. E o mundo parece que acaba. Vem a menopausa e os transtornos a ela associados. As maleitas ditas próprias da idade.
Deixamos de ser jovens, bonitas e passamos a ter rugas e somos chamadas de tias (aqui com outra conotação) ou de avós... Ainda que tenhamos a sorte de ter uns trocos e com isso recorrido a plásticas e estejamos todas quitadas... aos olhos da sociedade continuamos a ser velhas, acabadas. Parece que não temos mais nada para aprender e ninguém parece estar interessado no que pensamos ou queiramos partilhar...
Reforma-te que tens de dar lugar aos mais novos... Já só servimos para fazer bolinhos e tomar conta dos netinhos.
Outra... Os avós fazem sexo???? Que horror....
A sexualidade passa a ser um tema tabu.
E um dia tudo acaba...
... e fazemos parte de uma qualquer estatística em que as mulheres vivem mais anos que os homens.
É isto... ser-se mulher...
Poder-me queixar, me expressar por quem não pode fazer... Ser livre e ter a sorte de viver num pais democrático! Poder escolher a vida que quero ter e com quem quero passar.
Que bom que é ser mulher!
"Nada mais contraditório do que ser mulher...
Mulher que pensa com o coração,
age pela emoção e vence pelo amor.
Que vive milhões de emoções num só dia
e transmite cada uma delas, num único olhar.
Que cobra de si a perfeição
e vive arrumando desculpas
para os erros daqueles que ama.
Que hospeda no ventre outras almas,
dá à luz e depois fica cega,
diante da beleza dos filhos que gerou.
Que dá as asas, ensina a voar
mas não quer ver partir os pássaros,
mesmo sabendo que eles não lhe pertencem.
Que se enfeita toda e perfuma o leito,
ainda que o seu amor
nem perceba mais tais detalhes.
Que como uma feiticeira
transforme em luz e sorriso
as dores que sente na alma,
só pra ninguém notar.
E ainda tem que ser forte,
pra dar os ombros
para aqueles neles precise chorar.
Feliz do homem que por um dia
souber entender a Alma de Mulher!"
Fátima Ayache
Um dia só é pouco... Todos são dias da Mulher!